A insana sequência de jogos dos clubes brasileiros

O dia 5 de novembro trouxe grandes emoções no futebol brasileiro: viradas incríveis, muitos gols e suspense até o apito final para Atlético-MG, Flamengo, Santos, Cruzeiro (Copa do Brasil) e São Paulo (Sul-Americana). E qual a recompensa? Para os derrotados, decepção, ou até crise; para os vencedores, a continuação de uma absurda sequência de jogos sem descanso.

Todos os times acima citados estão jogando duas vezes por semana, sem folgas, desde meados de agosto. Qualquer pessoa que trabalha com preparo físico atestará que 3 semanas seguidas nesse ritmo são suficiente para causar um desgaste sensível nos atletas – imagine então o que acontece jogando 3 meses sem parar. Sabendo disso, não seria lógico imaginar que o cansaço dos jogadores seja um componente importante em toda essa “emoção” da última semana?

A situação atual está longe de ser um caso isolado. Considerando apenas os 8 clubes mais sobrecarregados em 2014, é possível encontrar 13 séries com mais de 10 jogos sem folgas nesta temporada:

Atlético-MG: 16 jogos (29/jan a 23/mar), 30 jogos (17/ago a 30/nov)
Atlético-PR: 22 jogos (18/jan a 2/abr), 13 jogos (17/ago a 28/set)
Botafogo: 21 jogos (18/jan a 22/mar), 21 jogos (17/ago a 25/out)
Cruzeiro: 15 jogos (1º/fev a 23/mar), 11 jogos (27/abr a 1/jun), 30 jogos (17/ago a 30/nov)
Flamengo: 25 jogos (19/jan a 13/abr), 25 jogos (17/ago a 9/nov)
Grêmio: 23 jogos (19/jan a 2/abr)
Santos: 19 jogos (6/set a 9/nov)
São Paulo: 36 jogos (10/ago a 10/dez) [se não chegar à final da Copa Sul-Americana, serão “só” 33]

Nota-se, claramente, que são dois os pontos críticos para os clubes brasileiros. No primeiro semestre, sofrem aqueles que disputam a Libertadores; no segundo, o peso fica com os que vão longe na Copa do Brasil e, ainda mais, para os que jogam a Sul-Americana – caso do São Paulo, que pode chegar a 36 jogos (4 meses!!!) sem nenhum respiro e ainda com 4 viagens internacionais na bagagem.

E no exterior, será que semelhante descalabro acontece? Vejamos os times que enfrentaram as maiores sequências nos principais países, nos últimos 12 meses:

San Lorenzo: 29 jogos (7/fev a 19/mai)
Manchester City: 21 jogos (24/nov a 3/fev)
Barcelona: 15 jogos (5/jan a 22/fev)
Bayern de Munique: 13 jogos (22/mar a 3/mai)
Porto: 12 jogos (13/mar a 21/abr)
Juventus: 11 jogos (9/mar a 14/abr)
Paris Saint-Germain: 9 jogos (23/nov a 22/dez)

Na Argentina, times que chegam longe na Libertadores podem ser submetidos a sequências absurdas, como foi o caso do San Lorenzo no primeiro semestre deste ano (29 jogos sem parar). Já na Europa, uma série tão extensa é impossível, devido às “datas Fifa”, que impõem uma pausa aos clubes (mas não aos jogadores das seleções, só que essa já é outra história). Assim, as mais longas sequências na Europa – de Barcelona e Manchester City – ocorreram justamente na virada do ano, quando não há jogos de seleções no continente.

Vale mencionar que, embora sejam bem menores que as piores séries brasileiras, as maiores sequências dos gigantes europeus também estão muito acima do ideal, em termos de preparo físico.