quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os brasileiros “amarelaram” na Olimpíada? – conclusão

No último dia 19, iniciei uma série sobre o desempenho dos atletas brasileiros na Olimpíada de Londres. O princípio básico era comparar a posição obtida nos Jogos com a colocação que o atleta ocupa no ranking mundial, para, a partir disso, avaliar se o desempenho foi positivo, neutro ou negativo (aexplicação detalhada dos critérios está aqui).

Os resultados, classificados por esporte, podem ser encontrado nos links abaixo:




Avaliados todos os resultados, agora é a hora de responder a pergunta: e então, os brasileiros “amarelaram” em Londres? Uma resposta simples seria: não, não amarelaram. Na média, os resultados obtidos estavam de acordo com o ranking dos atletas antes dos Jogos. Se não ganhamos mais medalhas, é porque o nível técnico da maioria dos nossos representantes é baixo. No entanto, é preciso ir um pouco mais fundo nessa análise.

Primeiro, algumas ressalvas ao método usado para a avaliação. É inegável que alguns rankings não refletem de maneira exata a qualidade dos atletas, muito menos do “momento” que vivem em 2012 – só que não há nenhuma outra medida objetiva melhor. Nos casos em que a comparação foi feita com o último Mundial, há a possibilidade de o resultado nesse torneio (e não na Olimpíada) ter sido atípico. Outro problema é o fato de o ranking incluir todos os atletas (exceto nos esportes coletivos), em vez de considerar só aqueles que de fato foram para a Olimpíada. Isso pode resultar num viés positivo para as comparações, especialmente nos casos de atletas com rankings muito baixos.

Dadas essas limitações, deve-se considerar uma certa “margem de erro” ao analisar os resultados apresentados. Apesar das falhas, no geral, o levantamento mostrou-se coerente e robusto.

Feita a ressalva, vamos aos resultados. Somando todas as avaliações apresentadas, tivemos 59 desempenhos positivos, 50 neutros e 52 negativos. Ou seja, daria até para dizer que o balanço brasileiro foi ligeiramente positivo. Outra maneira de fazer a análise é esporte por esporte. Nesse critério, teríamos:

Positivos: Tiro, Triatlo, Vela, Boxe, Handebol e Hipismo.

Neutros: Tênis, Tênis de Mesa, Vôlei, Atletismo, Basquete, Canoagem, Esgrima, Futebol, Ginástica Artística, Judô, Levantamento de Peso, Nado Sincronizado, Pentatlo Moderno, Saltos Ornamentais e Taekwondo.

Negativos: Tiro com Arco, Vôlei de Praia, Ciclismo, Luta, Natação e Remo.

Ou seja, na soma, 6 esportes tiveram desempenho positivo, 15 foram neutros e 6 negativos. Na média, o resultado é evidentemente neutro.

Além do “oba-oba” da imprensa antes da Olimpíada, existe outra explicação para a sensação de fracasso atribuída aos brasileiros. Se, na média geral, o desempenho esteve dentro do esperado, entre os principais medalhistas o resultado realmente ficou um pouco abaixo. De acordo com o ranking pré-Olimpíadas, o Brasil deveria ganhar as seguintes medalhas em Londres:

Ouro: Arthur Zanetti (ginástica artística/argolas), Cesar Cielo (natação/50m livre), Vôlei Masculino, Alison/Emanuel (vôlei de praia), Juliana/Larissa (vôlei de praia), Fabiana Murer (atletismo/salto com vara) e Everton Lopes (boxe/meio médio ligeiro).

Prata: Leandro Guilheiro (judô/meio-médio), Mayra Aguiar (judô/meio-pesado), Sarah Menezes (judô/ligeiro) e Vôlei Feminino.

Bronze: Rafael Silva (judô/pesado), Érika Miranda (judô/meio-leve), Yane Marques (pentatlo moderno), Bruno Fontes (vela/laser) e Esquiva Falcão (boxe/médio).

Ou seja, seriam 7 medalhas de ouro, 4 de prata e 5 de bronze, resultado que deixaria o Brasil em 12º no quadro de medalhas oficial. Na realidade, ganhamos 3 de ouro, 5 de prata e 9 de bronze (22º lugar). Note-se que o total de medalhas foi até maior que o previsto, mas o número de ouros ficou muito aquém do esperado.

Dentre os 7 brasileiros que ocupavam a 1ª posição em seus rankings, só Arthur Zanetti confirmou o favoritismo. Outros 2 ficaram com a medalha de prata e 2 ganharam o bronze (2 saíram de mãos vazias). As outras 2 medalhas de ouro que o Brasil levou vieram de atletas dos quais se esperava a prata (Sarah Menezes e Vôlei Feminino).

Outra análise interessante que pode ser feita é separar os resultados dos homens e das mulheres em Londres. Embora 2 de nossas 3 medalhas de ouro tenham vindo do feminino, na média, os resultados das mulheres foram muito piores. Vejamos:

- Modalidades masculinas: 41 positivos, 26 neutros e 26 negativos
- Modalidades femininas: 18 positivos, 24 neutros e 26 negativos

Ah, então quer dizer que as mulheres “amarelaram”? Na média, sim. Mas não podemos esquecer que atletas de três modalidades se superaram para trazer medalhas para o Brasil, caso do Vôlei Feminino, de Sarah Menezes e de Adriana Araújo. Já com os homens a história foi inversa: na média, os resultados estiveram acima das expectativas, mas, entre os prováveis medalhistas, 6 dos 9 decepcionaram.

O resumo da ópera é que, no geral, o desempenho brasileiro refletiu adequadamente o nível de desenvolvimento de nosso esporte olímpico. É verdade que, com um pouco de sorte (ou menos falhas na “hora H”), poderíamos ter ganhado mais medalhas de ouro, mas essa é uma oscilação estatisticamente normal, dado o pequeno número de atletas “top” que temos. Em termos de total de medalhas – dado muito mais significativo para países coadjuvantes, como o Brasil –, até nos saímos melhor que o esperado.

Se o País quer realmente ser uma “potência olímpica” tem que dar meios para que os jovens se desenvolvam em uma gama mais ampla de esportes, que, a médio/longo prazo resultariam em mais atletas de ponta e, consequentemente, mais medalhas. Apostar só em meia dúzia de atletas e depois culpá-los por terem “amarelado” é muito simplista – e não bate com a realidade.

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