sábado, 29 de outubro de 2011

Um outro quadro de medalhas

Aproveitando, ainda, o “gancho” dos Jogos Pan-Americanos, trago aqui uma reflexão sobre os quadros de medalhas, divulgados sempre com muito destaque em Pans e Olimpíadas.

Esses quadros são apresentados pela imprensa como se fossem a classificação de um campeonato de futebol. Mas essa analogia não é correta. Embora apresente o quadro em seu site, o Comitê Olímpico Internacional (no caso das Olimpíadas) não o trata como uma “competição”, não dá nenhum prêmio ao “campeão”, nem destaca o resultado final. Ou seja, ninguém pode dizer que a China “foi campeã” da última Olimpíada.

Mesmo assim, pelo destaque que tem, o quadro de medalhas acaba sendo um termômetro da evolução do esporte olímpico brasileiro. O problema é que trata-se de um termômetro muito viesado. O motivo é simples: esportes individuais, em geral, “rendem” muito mais medalhas que esportes coletivos. Assim, um país com grandes nadadores pode ganhar 34 medalhas de ouro; já uma nação com grandes jogadores de futebol ganha só 2. É por isso que a Jamaica, que só se destaca no atletismo (em corridas de curta distância), fica na frente de países com participação muito mais importante nos Jogos, como Espanha e Canadá.

Para amenizar essa distorção, pensei em um novo ranking. Em vez de distribuir três medalhas (ouro, prata e bronze) para cada modalidade, atribuo três para cada esporte. O cálculo é simples: para cada esporte (ou seja, futebol, tênis, atletismo, natação, etc.), monta-se um quadro de medalhas. Para o primeiro colocado nessa soma, atribui-se 1 ouro, para o segundo, 1 prata e para o terceiro, 1 bronze. Assim, um país que domina a ginástica olímpica (no caso, a China) ganha 1 medalha de ouro, do mesmo jeito que o melhor país no basquete (Estados Unidos).

Por esse critério, o quadro de medalhas da Olimpíada de 2008 seria o seguinte (ordenamento: 1º ouros; 2º pratas; 3º bronzes; 4º posição no quadro de medalhas convencional):


País
Ouro
Prata
Bronze
Total
Variação
1
China
7
3
4
14
=
2
Estados Unidos
6
4
4
14
=
3
Rússia
4
2
4
10
=
4
Alemanha
4
2
1
7
+1
5
Coreia do Sul
3
2
1
6
+2
6
Reino Unido
3
0
1
4
-2
7
Japão
2
1
1
4
+1
8
França
2
1
0
3
+2
9
Holanda
2
0
0
2
+3
10
Austrália
1
5
1
7
-4
11
Brasil
1
1
1
3
+12
12
Hungria
1
0
1
2
+9
13
Noruega
1
0
0
1
+9
14
Argentina
1
0
0
1
+21
15
Espanha
0
3
3
6
=
16
Itália
0
1
1
2
-7
17
Eslováquia
0
1
0
1
+9
18
Cuba
0
1
0
1
+10
19
México
0
1
0
1
+17
20
Indonésia
0
1
0
1
+22
21
Cingapura
0
1
0
1
+49
22
Canadá
0
0
3
3
-3
23
Ucrânia
0
0
1
1
-12
24
Quênia
0
0
1
1
-11
25
Rep. Tcheca
0
0
1
1
-1
26
Geórgia
0
0
1
1
+1
27
Cazaquistão
0
0
1
1
+2
28
Portugal
0
0
1
1
+18
29
Lituânia
0
0
1
1
+27
30
Islândia
0
0
1
1
+40
31
Jamaica
0
0
0
0
-17
*Brasil: ouro no vôlei (junto com EUA), prata no vôlei de praia (junto com a China) e bronze no futebol

Comparado este quadro de classificação com o quadro tradicional, nota-se que a China manteve o primeiro lugar, mas sua vantagem para os Estados Unidos foi muito menor. Isso mostra como os chineses, deliberadamente, fomentaram o desenvolvimento de esportes que distribuem muitas medalhas, para “turbinar” seu resultado em casa.

Quem se dá muito bem nesta classificação nova é o Brasil, que sobe de 23º para 11º lugar. Tal variação tem lógica: o País é mais forte em esportes coletivos. Argentina, México e Indonésia também deram grandes saltos, entrando no “top 20” olímpico. Entre os perdedores, o maior é a Jamaica, que cai do 14º para o 31º lugar – variação mais que justa, a meu ver. Ucrânia, Quênia e Itália também estão entre os mais “prejudicados” com o novo critério.

É inegável que este novo método também tem defeitos. A maneira de separar os esportes não é consenso: por exemplo, muitos consideram beisebol e softbol como uma coisa só; outros juntam vôlei com vôlei de praia; em alguns lugares, ginástica “artística” e ginástica “rítmica” são esportes diferentes. Para montar o quadro acima, usei a divisão de esportes feita pela Wikipédia.

Outro problema é que esta classificação prejudica países que têm bons atletas em vários esportes, mas não chegam a ter domínio em nenhum. É o caso, por exemplo, de Ucrânia, Itália e Bielorrússia. A ocorrência de empates em muitos esportes (foram 6, na primeira colocação) também distorce um pouco os resultados.

Mesmo assim, meu critério torna mais claro quais países são realmente “potências olímpicas”, considerando-se não só a posição na tabela, mas também o total de esportes nos quais o país esteve entre os três melhores. Assim, só há três forças incontestáveis: Estados Unidos, Rússia e China. Em um segundo patamar, pode-se incluir Alemanha, Coreia do Sul, Reino Unido, Japão e, talvez, Austrália. Outros países, como o Brasil, destacam-se apenas em esportes isolados.